terça-feira, 13 de outubro de 2009

GUDAN

"- ABCDEFGHIJ.....são apenas coisinhas que o homens inventaram para se comunicar mas elas não são perfeitas.tem varias coisas que podemos fazer farias composições delaS e não deciframos. "

"- E existem várias comunicações que habitam o espaço entre uma palavra e outra e só o coração pode sentir. A boca não fala, os ouvidos não ouvem e os olhos não vêem."

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Eu é Eu

Eu é Eu, Tu é Eu, Ele é Eu, Nós é Eu, Vós é Eu, Eles é Eu. Porque tudo, é EU.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Promessa é Dívida

Ele era Recife e Recife era ele. Criado em vários lugares mas estabelecido e decidido a viver aqui por vontade própria pelo resto da vida.

Trinta anos, trabalhava como designer, ganhava uma grana boa e tinha autonomia na utilização do seu tempo. Por isso respirava a cidade e ela circulava nas veias.

O que quero dizer, é que Luciano aos dezenove anos ao se mudar com a família para a capital pernambucana, se apaixonou completamente, nunca tinha sentindo efervecência cultural igual... A cidade tem tantos sons, tantos gostos e cores... ele podia afirmar com conhecimento de causa que era único mesmo... já tinha morado em São Paulo, Rio, Londres e Nova York.

Todas essas cidades eram maravilhosas, mas nenhuma tinha a lama e o caos de que Chico Science falava. Por isso, após 11 anos aqui, ele se sentia de fato em casa.

Dia de terça-feira a noite estava sempre no Pátio de São Pedro, escutando os afoxés. Nas quartas-feiras era noite de dançar o forró mais legítimo no Xinxim da Baiana em Olinda.

Sexta-feira você sempre ia encontrar Luciano no Recife Antigo curtindo o som do Traga a Vasilha.

No sábado ele variava... era tanta coisa que se podia fazer no sábado... as vezes o coco no bairro de Guadalupe, cerveja gelada na Bodega de Veio, etc etc. Domingo era dia de se queimar na praia de Boa Viagem, mas ele não gostava de ficar no Acaiaca, ali normalmente só a playboyzada acéfala se reunia... o negócio era ficar mais pra frente, na sussa, olhando o movimento, escutando um som e conversando com quem valia a pena.

O trabalho era bom, ele fazia o que gostava, ganhava bem, tinha tempo livre, a cidade era massa. O coração as vezes estava vago e as vezes não.

Mas o fato mesmo é que Luciano só tinha uma mulher certa até o fim da vida. Aos 30 anos, ele fez promessa, no dia de Nossa Senhora da Conceição ele prometeu que Recife seria sua mulher, só haveria de casar com essa cidade e com mais ninguém. Chegou cedo e lá debaixo da ladeira fumou um baseado e tomou alguns tragos de cachaça. Eram muitos romeiros, pessoas de muita fé que vinham agradecer e se martirizar pelas mais diversas graças concedidas pela santa. Já bastante alcoolizado Luciano enfrentou o mar de gente que se vestia de branco e de joelhos subiu até em cima do morro. Joelhos não haviam mais, mas ele estava feliz porque tinha concluído aquilo que entendia como seu desafio pessoal.

Isso mesmo, desafio pessoal, pois embora Luciano tivesse adoração pela cidade ele não era um homem de fé, ele era de certo modo um cético, que respirava tudo e curtia tudo, mas mantinha um olhar distanciado do aspecto religioso das coisas...

Acontece que promessa é dívida e não é preciso que acreditemos nas coisas para que elas sejam verdade, elas apenas são, independente e indiferente a nossa concepção.

Naquela noite, Luciano chegou em casa sem se lembrar como, joelhos esfolados e ensangüentados, febre que não cessava e uma dor de cabeça como ele jamais havia sentido antes. Deitou-se na cama imundo e desnorteado como estava e tentou dormir, mas não conseguiu. Pensamentos confusos se passavam por sua mente e imagens das mais diversas apareciam... um mar de gente, rostos, roupas brancas, cheiro de suor, mãos enrugadas,lagrimas, terços, sorrisos e gargalhadas de um morro que parecia abrir sua boca numa mistura de escárnio e total desespero num desejo de engolir Luciano...

Assim foi a noite toda até que o dia raiou. Uma paz súbita invadiu seu coração. Já não sentia dores na cabeça, a febre se foi e seus joelhos misteriosamente não tinham se quer um arranham.

Feliz por estar bem, mas incrédulo por não entender como, ele saiu apressadamente de casa e foi trabalhar. Ao entrar em seu carro e olhar pelo retrovisor não viu seu rosto... o que ele viu foi....

-Não. Não dava pra acreditar. Não era seu rosto, era a cidade, seu rosto não havia mais. O que se via era a cidade, suas ruas, vielas, praças e toda a gente nela, seus cheiros, favelas, prazeres e horrores.


Promessa é dívida.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Mulheres

As vezes fico perdido... fico tentando achar a melhor maneira pra dizer algo pra ela.... fico pensando coisas como: " se eu falar tal coisa de tal jeito, ela vai entender errado, entao é melhor eu falar de tal outro jeito... ou talvez seja melhor falar outro dia.... ou talvez seja melhor falar hoje mas numa outra hora... ou talvez seja melhor mudar a intonação da voz... ou... talvez seja melhor nem falar."

Ah essas mulheres!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O medo de rir

Eu faço coisas de assustar.
Eu digo coisas de assustar.
Eu penso coisas de assustar.

Mas hoje não. Hoje, eu te trouxe uma rosa. E um sorriso.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A mentira

Eu te visto com as roupas dela
E te perfumo com o perfume dela
Dança pra mim? Eu posso pagar.
Olha pra mim? Eu posso pagar.
Fala que me ama. Eu posso pagar.
Toca em mim. Eu posso pagar.
Tá sentindo? É o meu coração batendo.

É, eu tenho um coração. E posso pagar.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Lucy in the Sky with Diamonds

22 horas da noite, quinta-feira, abre uma caixa, tira de lá um papel alumínio dobradinho, abre; um papelzinho duro com o sorriso de uma moça estampado... um sorriso pra ele... papel na lingua... morde... passa no céu da boca, nas bochechas e deixa de baixo da língua até dissolver...

22:15 ônibus.... desce no cais de Santa Rita... vai andando pela rua Marins e Barros e cruza a ponte Primeiro de Março, olha pra estátua no topo da ponte... ela brilha... está extremamente acesa... tudo está muito brilhante... vai caminhando curtindo a paisagem noturna... chega na frente do Downtown... fila... um cara na sua frente faz perguntas, perguntas inúteis; “hoje é ladies free”? “quanto tá a entrada”? Meninas olham, meninos olham, tudo brilha... como diriam John e Paul: é tudo “Lucy in the Sky with Diamonds”...

O jornal do outro lado da rua roda nas máquinas... sangue e morte de hoje para o café da manhã de amanhã... o som é ensurdecedor ou só ele está achando?

Sobe uma onda de calor... é intenso... é extremamente intenso... é de pingar e molhar a camisa... em pé na fila... meninas olham, meninos olham, tudo brilha... como diriam John e Paul: é tudo “Lucy in the Sky with Diamonds”...


A fila caminha, lenta... bem lenta... um carro do outro lado abre a mala... tocando uma batida... o som é ensurdecedor ou só ele está achando?

Compra um vinho Carreteiro com o vendedor que fica com o isopor na frente... ganhando uns trocados da playboyzada...

O vento sopra... é como um lençol de seda tocando a pele bem de leve... é gostoso... é bem louco... as mãos geladas, o suor pingando... as pupilas dilatadas no limite... faz o olho ficar bonito.

O suor pinga... o olho brilha... as luzes brilham... como nunca... um cara na sua frente faz perguntas inúteis; “Demais a tua camisa, o que tem escrito mesmo”? – “Vodka, connecting people”.

Meninas filosofam sobre como solucionar um grande mistério; conseguir abrir uma garrafa de Smirnoff Ice... elas não abrem... ele abre. É... talvez isso seja... Vodka Connecting People.

A fila caminha, lenta... bem lenta... as luzes brilham, o suor pinga... a noite ainda estava pra começar... meninas olham, meninos olham... perto da porta da pra escutar o som rolando dentro da boate... da pra escutar forte...da pra escutar alto... a noite estava pra começar...Como diriam John e Paul: é tudo “Lucy in the Sky with Diamonds”.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Rei de Areia

Numa praia, num sábado, de manhã cedinho... balde e pazinha na mão... concentrado... elaborando e executando um complexo trabalho de arquitetura... e...

- O que você está fazendo?

- Eu estou fazendo um castelo de areia.

-Hum... legal.

- É sim. Quer brincar comigo? Vamos fazer o castelo juntos. Eu posso ser o rei e você pode ser a rainha...

- É? Então tá.

- Qual o seu nome? O meu é Renato.

- Carolina.

- Então rainha... nosso castelo vai...

- Carol?!

- Oi mãe!

- Vem aqui pra água filha!

- Tô indo!

Ela saiu correndo... pisou a torre... nada mais de castelo... tanto trabalho... Renato pensou que poderia refazer (sempre é possível recomeçar). Mas, pra que refazer mesmo? A maré subia, logo iria acabar com o castelo de novo.

A água é mais forte que o castelo, e não havia mais rainha. E na verdade, na verdade mesmo; não se tem castelo nem rainha, quando se é, um rei de areia.

terça-feira, 24 de março de 2009

O contador

Ele sempre foi pragmático, mesmo quando pequeno nunca se preocupou muito em entender os porquês. Queria obter os resultados e só. Esse era o foco.

Sua forma direta de pensar o levou a ter bom desempenho escolar com números. Aos 23 anos já estava formado em contabilidade e trabalhava num grande e conhecido escritório de contabilidade na cidade do Recife.

Nunca se casou (sempre achou que as mulheres são extremamente complexas, exigem muita atenção e cuidado, nunca estão satisfeitas, choram, perguntam demais e claro, tem TPM). Por isso, preferia ter relações curtas, que ele, acabava rapidamente assim que se tornavam um incômodo.

Ganhava a vida tratando dos valores monetários que empregados de empresas tinham direito a receber, seja por anos de serviço, seja por indenizações, etc.

O lema do escritório era um só: Faça os cálculos com cuidado e atenção para que as empresas contratantes sempre tenham de pagar o mínimo possível aos empregados descontentes.

Nunca se questionou a respeito do serviço que produzia, apenas gostava de ser o melhor. E era. Mas, o tempo passou, e hoje já está com 58 anos. Trabalhando na mesma empresa, porém num cargo de diretoria, fato esse que embora lhe garantisse um salário bem mais generoso, lhe deixava profundamente descontente, pois precisava tomar decisões que muitas vezes exigiam reflexões sobre o futuro do escritório. E muitas dessas decisões não tinham relação direta com números.

Mas hoje, ainda em casa, após acordar, sentiu, um sentimento, que não estava muito bem acostumado, não sabia para onde ia, nem o porque. Um aperto no coração, uma mistura de euforia, alegria e tristeza e uma súbita vontade de chorar. Achou um pouco patético, não experimentava aquilo desde... desde... o seu aniversário de 7 anos de idade, dia em que sentiu-se estranhamente humano.

É que seu avô havia lhe dado uma flauta pan como presente de aniversário. Uma flautinha de plástico, de 12 furos que produzia sonoridade bastante característica. Nesse dia ele foi extremamente feliz, tocava o instrumento aleatoriamente e se encantava com os sons que produzia. Para ele, todos esses sons eram melodias que, na sua cabeça, se encaixavam perfeitamente e expressavam sua interação com o mundo. Percebeu ali o quanto seu avô o amava. E viu no rosto do velho, um grande sorriso de satisfação, que ficou guardado no fundo de sua cabeça.

Ter mentalmente revivido todo esse redemoinho de lembranças e sensações, fez com que buscasse, debaixo de sua cama, a velha caixa a onde, ainda guardava algumas poucas recordações do seu passado, dentre elas a flauta pan, e um retrato seu ao lado do velho que lhe sorria sereno.

Foi trabalhar normalmente, carregava no bolso do paletó a flauta, que colocou sob sua mesa assim que chegou ao escritório.

Abriu sua agenda, ligou o computador verificou as pendências do dia, pediu a secretária um café.... reunião às 9 com o atual dono da empresa, corte de custos, planilhas, empregados que solicitam aumento, fofocas de escritório, bláblá bláblá bláblá...

Fazia muito calor em Recife, era um dia lindo, numa cidade linda, o terno lhe pesava uma tonelada, e o suor começou a pingar. Escorria primeiro das laterais da cabeça, pegando pelas têmporas e descia pescoço abaixo, molhando o colarinho... aquilo não era normal. Ele não era normal... aquelas pessoas... não eram normais... aquelas conversas... aquelas preocupações... nada daquilo era belo... nada daquilo valia... Ele tinha trabalhado 35 anos sem pensar, 35 anos... 420 meses, ao menos, 12.600 dias...302.400 horas! De números... de números e nada mais... O que diria seu avô? O que diria aquele menino que ele uma dia foi? O que ele poderia ser hoje? E o que não foi?

Grande feito! O melhor contador do escritório! O mais eficiente! Centenas e centenas de empresas beneficiadas e satisfeitas... vidas e vidas frustradas, limitadas, encurtadas... por números.

Tirou o terno rapidamente, ficou de cuecas e meias apenas, pegou a flauta e as chaves do carro. O fim da tarde estava chegando... queria ver o mar e o sol se deitar por trás dos feios arranha-céus que teimavam em desafiar Deus na orla de Boa Viagem.

Colocou a flauta na boca e tocava acordes mágicos enquanto olhava bem nos olhos de cada um dos colegas de trabalho e dizia:

- Dona Cláudia, sorria, esse é pra você

- Oscar, esse aqui é pra você...

- Patrícia... João... Maria...

E assim foi até pegar o carro... dirigiu até a orla, entrou no mar sentindo a água morna e gostosa enquanto tocava sua flauta pan, tinha a certeza de que o velho ficaria feliz, e sorriria mais uma vez para ele. De costas para o mar, mas curtindo a água... sorria e tocava sua flauta pan e via o sol se por por trás dos feios arranha-céus que teimavam em desafiar Deus na orla de Boa Viagem.

Sabia que agora poderia contar... histórias.

quinta-feira, 19 de março de 2009

A Bailarina

Acordou cedo, tomou café como de costume, e devido aos maus hábitos da vida moderna, foi direto para o pc... abriu o orkut, era um dia comum, era um dia, como todos os outros dias. Estava na expectativa de ver algum recado novo, de algum amigo velho (ou de algum velho amigo).

Mas ao abrir a página, encontrou um recado. Um perfil sem nome,uma foto de uma menina fazendo um passo de balé... um número de telefone e a frase: “quero dançar com você...” logo abaixo, tinha o link para uma música, ele abriu o link e a melodia era belíssima e de uma suavidade... ele estava em transe, sentiu uma paz enorme e sua mente se fixou na letra que dizia assim:

“I can fly But I want his wings
I can shine even in the darkness
But I crave the light that he brings
Revel in the songs that he sings
My angel Gabriel…”

Embora estivesse impressionado com todo o acontecido sentia-se de certo modo incrédulo, e tinha a sensação que isso poderia ser uma simples brincadeira de alguém... ou talvez uma ex-namorada que estava talvez, tentando uma reaproximação, através de uma forma não convencional....

Achou que pensava demais e que o melhor era ligar para o número, e tentar assim, colocar um ponto final em todo esse mistério... Mas era muito cedo... 5:50 da manhã ainda... não se deve ligar para alguém num horário como esses, afinal, nem todo mundo é maluco (o suficiente como ele) para estar de pé essas horas... Torturou-se até as 8 horas da manhã tentando imaginar possibilidades que explicassem toda essa situação peculiar... obviamente, não conseguiu encontrar explicação. Mas, finalmente eram 8 horas e ele decidiu ligar.

O telefone começou a tocar, alguém atendeu e ele precipitadamente disse:

-Alô?

-Oi! Finalmente você ligou! Porque não ligou mais cedo?

-Como assim? Ligar mais cedo? Porque me adicionou no orkut? Você me conhece? Quem é você? Eu não reconheço a sua voz...

-Não, você não me conhece, e eu também não te conheço embora eu tenha quase certeza de que você acorda bastante cedo e por isso, estava esperando você ligar... Está vendo só? Você não é o único louco....

-Mas como assim? Como você sabia?

-Eu não sabia, apenas sinto as coisas, e achei que você ligaria, e achei que você ligaria cedo, e achei que agora, quando o telefone tocou, seria você. E eu acertei não é mesmo?

-É é verdade, acertou mesmo... mas, bem, quem é você? Porque me adicinou no orkut? Qual a explicação de tudo isso?

-Bem, na verdade, isso tudo não precisa ter uma explicação. Porque tudo precisa ter uma explicação? A gente é criado dentro de um mundo em que desde pequenos, tudo precisa ter uma lógica, uma explicação, uma razão. Só se faz uma coisa se existir uma razão para fazer... então que tal agora, eu e você sermos cúmplices e fazermos algo sem explicação? Sem razão?

-Hum... estou entendendo. E estou concordando... mas então qual o seu nome?

-Meu nome? Que nome você gosta?

-Eu gosto de... Kaliandra... Kaliandra com “K”

-Meu nome é Kaliandra, Kaliandra com “K” e o seu nome, é Gabriel ok?

-Ok.

-Gabriel, hoje, é sábado são 8 horas da manhã, o que você está fazendo em casa? Porque você não aproveita pra ir a praia ou visitar alguém que você não vê a muito tempo?

-Visitar alguém?

-Isso, e fala que eu mandei lembranças.Você faz isso?

-Faço, vou fazer isso sim.

-Então Carpe Diem. E que tal encontrar comigo hoje no Marco Zero?

-Que horas?

-23:00 horas.

-Porque 23:00 horas?


-Não sei ao certo, talvez porque gosto de números que somados dão 5, cinco a gente conta com uma mão, são os dedos que fazem uma mão completa. Com uma mão, a gente cumprimenta, xinga, agradece, bate, elogia e faz gozar... não é perfeito?

-É sim, mas de certo modo, já estamos partindo para a lógica não acha? Sabe porque? Porque podemos fugir dela o quanto quisermos mas vamos precisar ao menos de um mínimo dela para não batermos a cara contra o muro...

-É verdade, mas então vamos tentar permanecer no mínimo necessário ok? E tem outra coisa, talvez eu não goste de números que somados dão cinco, apenas pensei num horário qualquer, e depois acabei imaginando algo para dizer já que você insiste tanto em porquês...

-Ok.

-Eu vou estar usando uma saia com estampa de flores tá? E eu tenho o cabelo vermelho, bem vermelho.

-Hum ok, eu vou estar usando uma bermuda verde e uma camisa preta... e... bem, você viu meu orkut, sabe como eu sou...

-É eu sei sim, mas com relação ao cabelo, esqueça, porque pensando bem, eu não sei que cor ele vai estar, talvez esteja azul... ou laranja... mas a saia vai ter estampa de flores.

-Combinado.

Naquele dia, “Gabriel” encontrou-se com “Kaliandra com K” no marco zero as 23:00 horas, números esses que somados, totalizam 5.

Ela era bailarina, ou ao menos era isso que ela era naquela noite, e de fato eles nunca haviam se encontrado antes. Gabriel era arquiteto, ou ao menos, era isso que ele era naquela noite.

O combinado foi que eles se veriam apenas naquela noite, e nunca mais procurariam um ao outro. Porque queriam dar o melhor de si para o outro, e isso infelizmente a gente só faz, quando tem a certeza de que jamais vai precisar dar satisfações no dia seguinte. Decidiram que do momento que estavam juntos, até o raiar do dia, um seria exatamente o que o outro desejava, sem cobrança, apenas pela sublime vontade de ver o outro sorrir. Por terem a percepção de que a lógica, o pudor e a vergonha eram coisas secundárias vivenciaram a plenitude do ser humano por uma noite e se amaram como nunca haviam amado ninguém antes. Talvez aos olhos dos demais, aqueles tenham sido momentos ridículos visto que eu, você e toda a sociedade está, constantemente, vigiando e sendo vigiados, numa cobrança eterna pelo bom senso, pela lógica, e pela estética perfeita. Eles não. Tiveram o seu momento de liberdade e gozaram desse momento ao máximo, sem regras fixas, numa busca real da satisfação do outro. E isso foi uma realização carnal tão intensa que não se pode explicar em palavras... e o mais “ilógico” e paradoxal de tudo isso, é que foi também uma experiência divina, um religare com o uno. Algo que poucos mortais tem a oportunidade de vivenciar...

Naquele noite, duas almas se perderam para poder se encontrar, e foi lindo. E um domingo completamente diferente dos outros domingos e de qualquer outro dia,nasceu ali.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O dinheiro é pra que?

O dinheiro é pra que?

É pra comprar a comida e a roupa.

O dinheiro é pra que?

É pra comprar o remédio e pagar a conta de luz e água.

O dinheiro é pra que?

É pra comprar os livros e ver os filmes.

O dinheiro é pra que?

É pra pagar a escola do nosso filho e o curso de inglês.

O dinheiro é pra que?

É pra depois das contas, porque a gente quer e merece gozar.

O dinheiro é pra que?

É pra deitar num sofá gostoso e dar uma bola contigo.

O dinheiro é pra que?

É pra te dar um presente e dizer que eu te amo.

O dinheiro é pra que?

É pra gente jogar videogame e comer chocolate juntos

O dinheiro é pra que?

É pra tudo isso, e tudo isso é muito pouco, porque é no entre isso e aquilo que a vida se faz.

É uma pena que eles não saibam pra que é o dinheiro, porque, sem uma justificativa, o meio se desfaz. E nada vale mais.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Nubain

Aos 8 anos ganhou o primeiro videogame, um atari. Jogar lhe dava um prazer imenso. E ficava fácilmente várias e várias horas na frente da tv jogando...

Várias e várias horas mesmo, a ponto de deixar de fazer as tarefinhas do colégio ou comer. Os país rapidamente perceberam o problema e começaram a regular bem de perto o tempo de utilização do videogame.

Ele se viciava fácil. O garoto era precoce.

Mas a questão é que o mundo está aí e quando se nasce para o vício... é difícil escapar. Acaba-se por trocar um pelo outro e fica "tudo bem".

Aos 12 ele cheirou benzina com os coleguinhas do colégio depois da aula.... e assim foi.
Depois de um tempo, a coisa engroçou porque aos 14 ele arrumou uma namorada de 19 (precoce mesmo). E ela comprova garrafão de vinho Carreteiro (5 litros) pra eles beberem nas festinhas. (Não preciso dizer que junto com isso, maconha era farofa e o rapaz pegava pesado). Junto com tanto vinho e outras coisas, perdeu vários neurônios (e a virgindade). Mas não perdeu o gosto por vícios.

Aos 19 sofreu um acidente de carro muito grave (bêbado pra variar) E foi parar na UTI. Sentia dores fortíssimas pois tinha quebrado vários ossos e como se não fosse o suficiente, tinha hemorragia interna dos orgãos... mas, você sabe, como diz o ditado: "Vazo ruim não quebra fácil" sobreviveu (que bom que sobreviveu!) porque na UTI os médicos (tão sábios são os médicos!) constataram que para suportar as dores o melhor era aplicar Nubain diaramente na veia do rapaz (e mais de uma vez ao dia).

Ah, você não sabe o que é Nubain? Bem, para não alongar muito, digamos que é o substituto legal da Heroína...

Mal começava a raiar o dia e lá vinha a enfermeira (santa enfermeira!) com a seringa e dentro dela o paraíso...

Só um beliscãozinho e... primeiro era um calor gostoso que começava no braço e daí ia para as costas (pela altura das costelas) depois esse calor ia seguindo pela espinha até chegar no pescoço e ao chegar no pescoço passava para o centro da nuca e entrava cérebro a dentro... só mais algumas frações de segundo e derrepente todo o hospital se transformava numa banheira gigante... uma banheira cheia de água morninha e ele ficava, hora flutuando sobre essa água, hora ele afundava nela e começava a nadar gostosamente em baixo dágua sem precisar respirar (era mágico!).

Pouco importava o que falavam com ele nessas horas e na realidade nada mais importava porque era como se ele estivesse em plenitude com o universo... ele gostava de tocar a mão no rosto nessas horas... as sensações físicas eram incríveis, e se existisse algo como fazer amor consigo mesmo, certamente era aquilo (e tudo isso estando com 90% do corpo imobilizado em cima de uma cama de hospital!). Tinha vontade de nunca mais ficar bom, só pra viver daquele jeito (é, eu sei, isso é louco, mas viciados são assim mesmo. Loucos).

Bom, mas como já foi dito, vazo ruim não quebra fácil. Ele finalmente se recuperou e seguiu a vida sempre em busca de um novo barato.

No carnaval desse ano ele foi pro "Enquanto isso na Sala de Justiça" e conheceu uma menina porquem se apaixonou.

Terminaram a noite na casa dele, passaram o dia na cama, transaram e ficaram simplesmente comendo chocolate, deitados e se alimentando um do outro... ele se sentia estranhamente pleno, nada mais existia fora daquele quarto, e percebeu que estavam juntos numa banheira de água bem morna e gostosa, nadavam juntos de baixo dágua (sem precisar respirar!) ou simplesmente ficavam flutuando no teto... as sensações físicas eram incríveis... e ele não queria mais saber o que era fazer amor consigo mesmo, porque aquilo era muito melhor.

O dia inteiro foi assim e o dia seguinte também.... passava os dias esperando chegar a noite para encontrar com ela... viciados são assim mesmo, loucos.

No carnaval, numa festa a fantasia, ele tinha encontrado sua Super heroína e estranhamente,
essa foi a sua cura.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Narizes

É claro que ele gostava de mulheres. Isso é fato. Mas o que acontece é que o homem mediano, ao observar as fêmeas das espécie sempre dá uma conferida na bunda, nas pernas ou nos seios, ou tudo isso junto. Ele não. Conteúdo era tudo pra ele mas... não sejamos hipócritas, o que ele olhava primeiro era... o nariz. É difícil saber porque, mas de algum modo esse cara se sentia atraído pelos narizes das mulheres.

Enquanto a maior parte dos homens teria um poster de Carla Peres no quarto, ele preferia ter um poster de Sofia Coppola (que nariz! Que mulher!)

Então quando via alguém que lhe atraía, era inegável, os olhos se dirigiam primeiro para o nariz da dita cuja. Era estranho, mas ao conversar com sua possível futura namorada (ou ficante) ele se via num grande dilema "como fazer? olha-la nos olhos, ou olhar o nariz dela?"

E o mais estranho é que ele adorava narizes grandes, digo grandes porém harmônicos, tipo desses que querendo ou não chegavam num lugar um pouco antes da dona.
Ele tinha uma teoria: É que mulheres narigudas sabem o que querem, e o desejo de chegar lá é tão latente que se manifesta na ponta do nariz.

Na sua mente, fantasiava casar com uma mulher como Sofia (ter aquele nariz para si seria demais)... mas a realidade é imprevisível para os mortais, e dia desses ele foi pagar umas contas e a funcionária da tesouraria (muito bonita por sinal) chamou sua atenção.... digo que chamou a atenção dele porque o nariz dela dizia: "Você é meu" era impossível resistir, o que mais podia ele fazer contra a força daquele nariz? Estão juntos.

O curioso é que ela não se parecia nada com Sofia, mas ela tinha um nariz... hummmm que nariz.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Feliz ano novo

Eles se conheceram na praia. Antônio era de fora, embora fosse de Recife. Quero dizer que é alguém que não pertence a lugar nenhum específico e ao mesmo tempo pertence a vários lugares.

Nesse dia, ele tinha surtado. Estava numa nóia antisocial.... desligou o celular, desconectou o computador e decidiu que não veria ninguém no dia de ano novo. Isso mesmo... pegou o carro e foi pruma praia chamada Toquinho, chegou lá no começo da noite. Uma praia praticamente privada, que nessa época do ano está isolada. Estranhamente ninguém aparece por lá.

Ele pulou o muro de uma das casas e conseguiu chegar na areia da praia e viu o mar... um mar que parecia tão enegrecido e sem fim quanto ele se sentia por dentro.

Tinha uma garrafa de vinho na mão e já foi bebendo enquanto caminhava em direção a água. Ele escutava o barulho do mar revolto e sentia o desprendimento das gotinhas da água fria que salpicavam seu rosto mesmo ainda que de uma certa distância...

Estava descalço, molhou os pés na água curtindo o momento e a clareza de que apenas o som do mar podia ser ouvido, ele tinha a certeza de que não tinha mais ninguém ali e se sentia bem por isso.

Tirou a roupa, tomou todo o vinho, de uma só vez, como se fosse vital como respirar. num pedaço de papel que estava no bolso da calça escreveu uma mensagem e colocou dentro da garrafa.

Completamente embriagado entrou no mar. Garrafa na mão e lutando com a corrente fria e bebendo muita água salgada. Conseguiu finalmente ficar longe da costa, entre soluços e gargalhadas jogou a garrafa mar a dentro. Queria ficar mais ali, mas percebeu que se não voltasse naquele exato momento, não voltaria mais. Então depois de muito esforço conseguiu chegar na areia. Exausto.

Ficou lá deitado. De olhos fechados curtindo o som do mar e a estranha sensação de adquirir uma nova "pele" feita da areia que se agarrava a ele.

- Oi tudo bem? Vem sempre aqui?

Achou que era loucura, mas percebeu que alguém de fato falava com ele. Abrindo os olhos viu essa mulher, trajando um vestido longo e azul...um azul diferente de tudo que ele já tinha visto.

Ela tinha por volta de uns 36 anos, cabelos castanhos bem longos e uma pele morena. Não era exatamente bonita. Mas ela tinha alguma coisa extremamente difícil de se traduzir em palavras e que era de fato magnético.

De cara ele achou que seria Iemanjá. Mas percebeu que não quando ela disse que se chamava Lara e que os país dela eram os donos da casa logo em frente a onde ele estava deitado.

Eles começaram a conversar, Lara tinha uma erva e fumaram na areia enquanto ela lhe dizia que assim como ele, ela também estava cançada de tantos anos novos (afinal todo ano era a mesma coisa, vinha um novo ano e acabava com a ano anterior).

Eles se entenderam muito bem e Lara que estava sozinha em casa, convidou o estranho pra entrar, beberam ainda mais e pouco antes da meia noite estavam transando. E...

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Algo realmente se acendeu naquela hora e no ápice ele acordou. Percebeu que estava em sua própria casa. Havia sonhado, dormido o dia inteiro, eram 23:30 no relógio de cabeceira.

Ele se levantou como estava. Entrou no carro e correu perigosamente até a beira mar de boa viagem... Em meio a devotos de iemanjá, familias e crianças de branco ele entrou no mar, decidido a ir até o fundo, nadava enlouquecido... quem estava na beira da praia não entendia qual o objetivo daquele cidadão, que nadava em direção ao alto mar com uma determinação tal, que até parecia que sua vida dependia disso...

É que ele estava decidido a encontrar Lara.

Sobre Ele e sobre Ela

Ele tinha 14 anos, ela tinha 13 estudavam na mesma sala no colégio... os coleguinhas não sacavam qual era a daquele garoto introvertido, que não gostava de futebol, nem filmes do rambo... ele gostava de cinema europeu, fellini, antonioni, bergman, filosofia, teatro e imaginar o que era o amor...

Ela era loirinha, tinha a pele bem clara, os cabelos cacheados e os olhos castanhos cor de mel e os lábios dela.... os lábios dela eram pequenos e carnudos.... eternamente avermelhados e com uma espécie de brilho que não ia embora nunca... e era inevitável para ele olhar aquela boca e imaginar como seria dar um beijo nela... e dava vontade de morder... deveria ter gosto de cereja... só podia ser gosto de cereja... ele tinha certeza disso. Mas o fato é que ele nunca tinha beijado ninguém.

Ela também não, e ela olhava pra ele e só pra ele, nas aulas de educação física, ela ficava na arquibancada pra ver ele jogar (ou tentar jogar) bola. Aquilo era uma tortura pra ele que não manjava nada com a bola, mas era obrigado pelo professor a jogar. Saber que ela todos os dias estava tão perto e tão longe era um desafio. Um desafio que ele sabia que iria perder graças ao monstrinho da timidez... o ano terminou e ela mudou de colégio e eles nunca mais se viram. Isso já faz 14 anos.

Esse fim de semana eu fui assistir ao festival de cinema francês no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.

Enquanto eu tomava um café sentado numa mesa, ele chegou, vi que ele chegou com pressa, veio sozinho e estava em cima da hora da sessão que já ia começar, ao parar na frente da bilheteria, ela estava lá, de mãos dadas com o namorado comprando o ingresso para o filme.

A pressa dele era tanta que esbarrou de frente com ela... ao se tocarem perceberam um ao outro e todas as lembranças vieram a tona novamente. Ela largou a mão do namorado. Sem saber exatamente o porque.

Ele disse "oi", e ela respondeu "oi". -Eles estudaram juntos na mesma sala durante apenas 1 ano. Eram 14 anos sem se ver. E na verdade, durante todo o ano que estudaram juntos, jamais trocaram palavra, e nesse dia eles disseram oi.


Ele sorriu, ela sorriu. Ele beijou a boca dela e foi bom.

-Você não tem gosto de cereja, mas é bom.

Ela ficou calada.

Ele entrou no cinema e o namorado atônito e claramente aborrecido e confuso pedia explicações e ela respondeu:

- É que ele não é mais tímido.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Lucas e a vendedora da fábrica de chocolates

Fazia já 6 anos que ele, fim de semana sim fim de semana não, ia até a fábrica de chocolates que havia na rua Santos Dumont. É, isso mesmo, uma fábrica de chocolates em pleno calor nordestino. Porém na sua opinião os chocolates produzidos e vendidos ali mesmo eram fabulosamente saborosos (muito mais saborosos do que os chocolates feitos no sul do país como os de Gramado por exemplo e talvez até melhor que chocolates suiços).

Havia descoberto o lugar graças a uma namorada que também era fã de doces e já frenquentava o local fazia bastante tempo. E como não é segredo pra ninguém, a grande maioria dos maconheiros tem uma fissura por doces e Lucas não era diferente, muitas vezes ia matar sua larica com a namorada na fantástica fábrica de chocolates da rua Santos Dumont. Lá ele escutava as sugestões da vendedora (uma moça de sorriso encantador) que sempre parecia saber que chocolate ou doce seria perfeito para o seu paladar no dia. E ela sempre acertava.

Mas quem não se acertava era aquele casal... Ele acabou ficando só, mas permaneceu fiel a fábrica de chocolates e a vendedora, que sempre estava ali, fiel ao paladar dele. Muitas mulheres passaram pela vida de Lucas,algumas namoradas,algumas ficantes,amizades coloridas,rolos... e muitos chocolates foram comidos durante todos esses anos.

Um dia desses ele estava só de novo e foi matar sua habitual larica na fábrica... a vendedora (que sorriso lindo) sempre fiel, sabia do que ele precisava e nesse dia, Lucas se lambuzou de chocolate e enxergou o que nunca tinha visto antes... dizem que eles tem saído juntos. A vida é um doce.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sobre a frase "Eu te amo"

Por esses dias estava conversando com o meu camarada Sérgio sobre a facilidade com que as pessoas dizem eu te amo, existem inclusive comunidades no Orkut criticando a banalização com que se diz isso.

Eu concordo. É que pra mim, me parece que amor é um sentimento tão nobre e tão complexo que não se pode usar como quem diz bom dia mesmo. Amar implica responsabilidade, comprometimento e certeza do que se diz e sente, e certamente algo tão intenso como o amor não é algo que chega do nada, e por tanto, também não vai embora do nada.

E de repente cê tá saindo com uma gatinha já faz uns dias (ou meses) mas nada sério e então, a figura vira pra você e.... EU TE AMO. Semana seguinte ela vai na padaria comprar pão e ao ver o padeiro algo acontece, aquele bigodão charmoso, aquela careca reluzente...é inevitável, dai vem o frio na barriga... os olhinhos brilham e ela descobre então que não te ama mais. Tipo que nem a OI, "simples assim".

Mas daí o meu camarada me fala assim: " O que ocorre cara, é que num determinado momento, num determinado dia, você a fez sorrir, e aquele dia, aquela sensação e o momento vivido foi tão intenso, que de fato, naquele dia, naquele momento e segundo, aquilo foi amor, por alguns segundos foi amor e foi verdadeiro..."

E dai eu entendi, sorri e tive que tirar o chapéu. E de certo modo, eu também amei... e foi tanta gente.

"A fonte do sofrimento é o desejo"

Se não me engano isso é um pensamento budista, acho tão sublime e tão intenso porque me parece muito verdadeiro. Porque se você conseguir anular o desejo você não vai mais sofrer pelo que não tem (sejam coisas materiais ou espirituais). O problema acho que é o fato de que isso requer um processo evolutivo e uma grandeza enorme e poucos são capazes de atingir esse nível saca? É porque digamos, dentro de uma cultura como a nossa, partimos do pressuposto de que para se chegar em algum lugar é preciso de um certo modo, cobiça e gana. Então o que eu acabo concluindo é que o sistema em si em que nós encontramos inviabiliza muitas vezes o amadurecimento espiritual e por tanto, somos eternamente condenados a ser crianças egocêntricas chorando, desejosas de mais. E no mais, é isso. Nada mais.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Do sonho de uma boneca de trapo

Uma boneca de trapo esquecida desde muito pela sua dona (pois a mesma cresceu), sonhava tal qual Pinóquio, tornar-se gente um dia. Ninguém lhe compreendia a vontade visto que seu mundo era composto por outros brinquedos, alguns quebrados, outros mal feitos desde sua concepção... e naquele mundo insípido ninguém podia entender as vontades da boneca, que queria deixar de ser brinquedo, e saber como é ser gente de verdade. Deixar de ser trapo esquecido na caixa de sapatos de alguém que não se lembrava mais dela. É, essa boneca queria mais, ela não se sentia pertencente aquele mundo cinzento de brinquedos velhos, ela acreditava que existiam coisas mais interessantes fora do quarto... Um dia uma amigo da dona da boneca foi até a casa dela, e encontrou por acaso a bonequinha escanteada... e por alguma razão inexplicável ele se afeiçoou dela, escutou os seus desejos e decidiu mostrar para ela o que existia além das fronteiras do quarto, a vida lá fora, conhecer gente de carne e osso.... A boneca de trapo se encantou com o que viu e decidiu que iria se remendar e iria fazer por onde aos poucos, tornar-se gente de carne e osso também... Mas um dia... por uma dessas razões inexplicáveis ela se cansou da vida real, seu corpo que já era quase humano, foi se desfazendo lentamente e ela foi virando uma boneca novamente, só que agora aos pedaços, aos poucos ela virou um amontoado de retalhos e remendos confusos e ainda mais rotos do que havia sido antes. Até mesmo sua beleza prévia de boneca já não se enxergava mais.... então, sem que nada mais pudesse ser reconhecido naquela pilha de pequenos pedaços de nada, ela rastejou de volta para o quarto de sua dona e estendeu aquilo que poderiamos chamar de mão para o soldadinho de chumbo e foram viver no fundo da escura caixa de sapatos, esquecidos de baixo da cama. Felizes para sempre enfim.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Todas as mulheres são loucas a começar pela mãe da gente

Esse é o título de uma música dos Titãs e eu acho cada vez mais que é verdade. Eu não digo isso com raiva. Apenas entendo como uma percepção provavelmente verdadeira, consequente das minhas experiências... Mas eu adoro elas, talvez exatamente por isso, ou não. Continuando aqui no meu processo de reflexão solitário, eu acho que nós homens também não ficamos atrás. Mas... como o meu interesse são elas, não vou gastar o meu tempo e o meu teclado falando sobre o meu sexo... O fato é que mesmo Freud, que foi o principal criador da psicologia, morreu sem ter conseguido entender o que elas querem. Eu como ser limitado que sou, fico ainda mais perdido que ele. A revista Época deste presente dia 02/02/2009 tem como matéria de capa inclusive uma reportagem sobre o fato de que nem elas mesmas sabem com clareza o que desejam, principalmente no aspecto sexual. E eu, sou partidário de que as mulheres tem, naturalmente, uma maior propenção a homosexualidade, ou ao menos, a bissexualidade.

O primeiro post

Vou colocar aqui neste blog, pensamentos, doideras e coisas que compoem o meu universo.

Para iniciar, vai primeiro uma historinha retirada do filme Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso) Do diretor Giuseppe Tornatore. O objetivo da história é a reflexão sobre quando um relacionamento vale ou não a pena:

"Era uma vez um rei que fez uma festa na qual estavam as princesas mais bonitas do reino. Um soldado que estava de guarda viu passar a filha do rei. Era a mais bonita de todas, e ficou logo apaixonado, mas o que podia fazer um pobre soldado em relação à filha do rei? Por fim, um dia conseguiu encontrá-la e disse-lhe que não podia mais viver sem ela. A princesa ficou tão comovida por aquele forte sentimento que disse ao soldado: “Se conseguir esperar 100 dias e 100 noites debaixo da minha janela, acabarei sendo sua”. O soldado foi logo para lá e esperou um dia, dois dias, dez, e depois vinte. E toda a noite, a princesa controlava pela janela, mas ele nunca se movia. Podia chover, ventar, nevar, que ele continuava lá. Os pássaros sujavam a cabeça dele, as abelhas comiam-no vivo, mas ele não se movia. Depois de 90 noites, estava emagrecido, esbranquiçado, as lágrimas lhe caíam rosto abaixo sem poder segurá-las porque nem forças para dormir ele tinha. Entretanto, a princesa ficava olhando para ele. E na 99ª noite, o soldado se levantou, pegou sua cadeira e foi embora."